Por Evelyn Costa
Alteridade, que palavra difícil é essa, não é? Mas o seu significado é simples e fácil de se compreender. Segundo a Wikipedia, Alteridade, do latim alteritas, é a concepção que parte do pressuposto básico de que todo o ser humano social interage e é interdependente do outro. Ou seja, a existência do “eu-individual” só é permitida mediante um contato com o outro.
Jean-Paul Sartre, filósofo existencialista, defende que a forma primeira com que nos relacionamos com o Outro é através do olhar. Ao lançar seu olhar sobre nós, o Outro nos define e nos qualifica em vários aspectos, atribuindo-nos um Ser, constituindo-nos como um Ser-para-Outro. Em resumo, a maneira como definimos nossa identidade depende dessa relação subjetiva entre eu e o outro ser.
Eu não sou um robô. Uma caixinha de texto que aparece quase sempre quando navegamos na internet e precisamos certificar que somos humanos e não um programa de computador qualquer. O que acontece é que muitas vezes não temos a oportunidade de marcar essa caixinha, principalmente nas situações que nós mais queremos: nos processos seletivos.
Alguns processos seletivos têm perdido a mão no uso da tecnologia para classificar ou reprovar candidatos. Isso já é um assunto bastante debatido nos fóruns da internet. Rolando a barra do LinkedIn vemos muitas pessoas que reclamam, quase todos os dias, de alguns processos de captação de currículos que utilizam a inteligência artificial para colaborar com a triagem dos candidatos. Como toda a ferramenta, quando usada de maneira isolada e limitada, corre-se o risco de perder de vista os aspectos humanos e a subjetividade que essa etapa exige.
São diversos fatores que podem influenciar em uma “não classificação” feita por um algoritmo: informações incompletas, palavras escritas de maneira errada, currículo desatualizado, ausência de dados de contato… Mas, se por trás tivesse um olhar mais crítico de um recrutador, poderia ser selecionado ou, pelo menos, checado.
É de se esperar que as ferramentas de atração de talentos para as empresas evoluam com o tempo, pois o mercado está cada vez mais competitivo e a quantidade de candidatos por vaga é muito maior do que há 10 anos. As informações, hoje, exigem um processamento rápido, preciso e eficaz. O processo deve ser assertivo. Vivemos na era dos dados, qualquer informação precisa ser comprovada. Gestores tendem a visualizar melhor os números, pois é prático, rápido e é um indicador para ser exposto e debatido com mais eficiência.
O caminho é esse e a menos que aconteça um apagão tecnológico (um apocalipse digital), a tendência é que cada vez mais as ferramentas evoluam e sejam mais objetivas, precisas e rápidas. Nos Recursos Humanos não será diferente.
Como alinhar então os recursos tecnológicos com os recursos humanos? E, se eu não existo sem o outro e sei que o olhar é importante na minha constituição como sujeito, como habitar um cenário tecnológico em que estamos caminhando para uma relação em que pouco se olha no olho?
Para o filósofo racionalista Espinosa, o corpo humano pode ser afetado de muitas maneiras, pelas quais sua potência de agir é aumentada ou diminuída, e isso se dá no ENCONTRO. Precisamos adaptar, claro, que os encontros podem ser virtuais, por que não? Aliás, em alguns momentos, que opção temos?
Nesses quase dois anos de pandemia, tivemos que acelerar o uso de ferramentas de vídeo para adaptar nossos encontros virtuais, a forma como entrevistamos, avaliamos, festejamos e reunimos. Mesmo assim o recrutamento ainda é sobre pessoas que ainda ficam nervosas, ansiosas e querem se mostrar capazes de uma vaga.
A tecnologia nos aproxima de quem está longe fisicamente, mas quando utilizada para fins extremamente objetivos em que não cabe espaço para a empatia, o exercício da alteridade e da compaixão, também afasta. Quando perdemos de vista os aspectos humanos, deixamos de lado tudo o que as ciências humanas ensinam como algo valioso: cada ser humano é único, não é 1 ou 0, 8 ou 80, apenas perfil x ou y. Cada ser humano cabe em si muitas possibilidades, características, motivações, experiências, habilidades. Nenhum algoritmo é capaz de ter empatia, de produzir o que um encontro produz.
Que nós, pessoas que contratam e trabalham com pessoas, não percamos de vista tudo aquilo que no fim das contas nenhuma tecnologia consegue substituir: as relações humanas e o que é produzido a partir delas.
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