Por Gleyce Ramos

Podemos colocar na mesma frase as palavras prazer e trabalho sem conflitos?

Estamos inseridos em uma sociedade que a todo momento deixa subentendido a necessidade de um comprometimento com o outro, como se só fosse possível dar tudo certo se eu ajudar todo mundo, se eu pensar primeiro em todo mundo. Além disso, pensando biologicamente, nós somos uma espécie que, ao nascer, precisa ser cuidada e amada para não morrer. Ainda que muito desenvolvidos somos extremamente frágeis para sobreviver no início da vida. 

Curiosamente, esse medo real do novo e do desconhecido quando um bebê surge no mundo, tende a perdurar na vida adulta, onde, por reforço societário, nós tendemos a achar que se eu não for amado e aceito pelo outro, eu morrerei. É uma sensação visceral que acaba sendo mantida ao longo da vida.

A dependência do amor e da aprovação

Vivemos dependendo do amor de terceiros e distanciados do amor próprio. Isso precisa ser mudado a fim de que seja possível viver a vida com mais plenitude para mim mesmo, estando mais conectado com o que eu quero e menos ligado a opinião dos outros. Com certeza, seríamos pessoas melhores para o planeta se cuidássemos um pouco mais de nós mesmos.

No ambiente de trabalho, onde passamos a maior parte da vida, é possível que estejamos ligados a todo momento com o que o outro está pensando sobre mim, com o que estou causando de impressão, o que está diretamente ligado à insegurança e dependência da aprovação externa. E se pensássemos em nós primeiro antes de me preocupar com o outro? É possível que estejamos mais próximos de uma possibilidade de executar as nossas funções do dia a dia com mais prazer e consequentemente mais significado. Parece lógico, mas a grande maioria de nós vive como se precisássemos atender a necessidade do outro com a minha entrega, com o meu fazer, para que depois, se eu merecer, seja recompensado.

A ideia de pensar em trabalho como sacrifício nos distancia da possibilidade de vivê-lo como uma oportunidade para expressar quem somos. É claro que exige esforço, responsabilidade e comprometimento, porém precisamos buscar mais prazer em nosso fazer.  

Se eu realizo uma atividade que pode não ser tão prazerosa, é importante tentar identificar o que me fez estar trabalhando com aquilo, a necessidade, a oportunidade? Buscar entender isso de forma contextual é relevante, pois muitas vezes o que me traz satisfação são as relações que eu construo e mantenho naquele ambiente e isso é maravilhoso, mas por si só não é suficiente para a construção do sentido do trabalho para mim. 

É prazeroso ter liberdade no trabalho, ainda que tenhamos uma rotina previamente estruturada, compromissos, pautas a serem cumpridas e até mesmo uma postura a ser respeitada. A liberdade promovida pela autonomia está diretamente ligada ao significado do que está sendo realizado diariamente. Quando faço algo que me traz um sentido maior do que uma recompensa ou reforço apenas, algo pertinente à minha essência como pessoa, é inevitável a sensação prazerosa que isso gera.

Na prática

Mas como saber isso? Como eu descubro o significado do trabalho pra mim? Simples. Invista tempo em você! Parece simples, mas está longe de ser. Se tentarmos nos desvencilhar do medo lá do início, desconstruir a crença de que somos dependentes do outro, mesmo depois de adultos, para sobreviver, já nos aproximamos um pouco da sensação gostosa da autonomia, nos aproximamos de nós mesmos.

Acredite em você! Se interesse por você e descubra um caminho delicioso e sem volta, que é o do autoconhecimento. Se permita sentir! Quando tiver significado, você vai sentir, quando tem sentido o corpo arrepia, o coração acelera, a emoção vem à tona e a vida aparece.

É extremamente possível trabalhar de forma prazerosa. Basta direcionarmos o foco para nós mesmos, buscar ampliar a nossa percepção, enxergar fora da caixa, se priorizando e cuidando de si em primeiro lugar. Consequentemente, seu colega de trabalho terá um parceiro inspirador e seu cliente desfrutará de um trabalho de excelente qualidade.